RESUMOS
Ally Day
Teorizando em colaboração — Novos rumos na Pesquisa da Prática de Narrativas de Vida Feminista
Em 2013, como parte de minha pesquisa de doutorado, comecei a promover um grupo de leitura para mulheres vivendo com HIV, questionando como as mulheres teorizam temas como incapacidade, cidadania e ética médica relacionada às suas próprias experiências com doenças crônicas e estigmatizantes nos Estados Unidos. Em 2015, iniciei a segunda fase do projeto, promovendo um grupo de leitura similar com profissionais que trabalham com AIDS. O que eu descobri, o contraste da recepção de leitura desses dois grupos, juntamente com a pesquisa de campo conduzida na Oficina de Narrativa Médica, da Universidade de Columbia, em 2015, figura como assunto do meu primeiro livro; Estigmatizando Narrativas examina como as histórias que contamos sobre nós moldam a qualidade do cuidado de nossa saúde. Em minha participação nessa mesa-redonda, gostaria de compartilhar um pouco o processo dessa prática de pesquisa em três fases e como ele abre espaço para uma prática de pesquisa feminista que é transformadora e colaborativa para e além da narrativa de vida.
Diana Meredith
Os arquivos do câncer: Personificação nas Cartas e na Arte Visual, questiona como a investigação narrativa e as representações visuais do câncer podem preencher criticamente a lacuna entre propriedade da doença por parte dos estabelecimentos médicos e as experiências pessoais de personificação. Colaboração está no cerne desse trabalho, tanto como uma abordagem multimodal da narrativa da doença que colabora inevitavelmente com o pessoal médico envolvido quanto os gêneros de audiências. A correspondência e a arte visual implicam em uma audiência. O surgimento do e-mail se dirige para além da audiência singular, na direção de uma audiência mais ampla cujas respostas influenciaram o rumo das correspondências. As reações de enfermeiras e médicos diante de uma arte visual sobre o câncer igualmente moldou o diálogo na medida em que nossas duas esferas de experiência interagiram. Essa arte ativista, tanto visual quanto epistolar, trazida de volta do que Sontag chamou de “reino do doente”, esclarece como a vida com uma doença fatal se intercepta com o envelhecimento.
Laura García de la Noceda Vazquez
Construir em colaboração um livro didático suplementar
Como resultado de meu projeto de tese, eu trabalharei no projeto de construção em colaboração de um livro didático no qual os professores assistentes de pós-graduação da Universidade de Porto Rico em Mayagüez desenvolverão uma unidade curricular imitando o modelo utilizado em The Pocket Instructor: Literature: 101 Exercises for the College Discussion, de Diana Fuss e William A. Gleeson, incluindo uma reflexão de uma auto etnografia pedagógica da aula. Essas unidades apresentam uma única e simples lição na qual os professores assistentes incorporam um texto não canônico em suas aulas de língua inglesa, visando estimular a discussão e a redação dos estudantes em inglês. Uma seção autorreflexiva, ou uma autoetnografia pedagógica acompanhará a aula e enfatizará nas próprias percepções dos professores assistentes e suas observações sobre a participação de seus alunos durante a aula. Ao criar esse texto suplementar, eu desejo criar um documento compartilhável que os atuais e futuros professores assistentes possam usar como uma fonte de estratégias e técnicas diversas.
Ricia Anne Chansky
Colaboração enquanto resistência
O apagamento das múltiplas e diversas vozes no espaço público não é novidade. Em anos recentes, muitos professores se tornaram mais convencidos sobre o desenvolvimento de estratégias para falar com e não pelo outro. No entanto, o atual e tangível movimento contra as populações vulneráveis e marginalizadas tem me causado uma necessidade de me sintonizar mais com as normas de nossas comunidades acadêmicas que tendem a privilegiar o excepcionalismo de uma voz e um ponto de vista singular sobre perspectivas mais intrincadas e multivocais. Essa apresentação considera a colaboração como um ponto de partida para uma prática de ensino, pesquisa, escrita e publicação que possa ser entendida como um método para engajamento em um ativismo sociopolítico e em uma resistência contra sistemas entrincheirados de exclusividade. Para ilustrar esse tópico, discutirei brevemente sobre alguns projetos colaborativos recentes dos quais eu participei e em como eles me impulsionaram a conceitualizar colaboração como forma de prática de resistência que fala com e não pelos outros.
Linda Warley
Libertando as palavras
Sinto-me afortunada o bastante por ter colaborado com outros pesquisadores ao longo dos vinte anos de minha carreira acadêmica. Todos esses projetos em colaboração, com exceção de dois, foram com mulheres. Todos os trabalhos em colaboração implicavam a escrita – coautoria em artigos para periódicos, introduções em coautoria e coautorias em capítulos de livros – e alguns projetos foram de edição. Mas a edição implica em escrita também, mais particularmente, trabalhar com a escrita produzida por outros. O que eu gostaria de discutir hoje é sobre a ética em lidar com as palavras do outro, assim como a necessidade de libertar nossas próprias palavras em uma relação de coautoria. Há uma prática de cuidado envolvida no que eu acredito ser eminentemente feminista.
Teresa Lenzi e Cláudia Mariza Mattos Brandão
Sobre Compartilhar Confiança e Cumplicidade
A história de nossa relação remonta o ano de 1993, quando nos encontramos na Universidade Federal do Rio Grande (Brasil), no extremo sul do país: uma, jovem e iniciante professora universitária, a outra, uma jovem engenheira retornando à universidade como estudante. Nesse encontro germinal, iniciamos uma parceria com características muito genuínas que se propagaram no tempo, fieis à sua origem: a jovem professora, com formação específica em arte, encontrou na jovem engenheira estudante o apoio que precisava: pragmatismo, disciplina, determinação, persistência e vontade. A jovem engenheira estudante, por sua vez, encontrou o apoio, a cumplicidade e a mesma vontade de voar. Juntas desenvolvemos muitas atividades, e durante três anos trabalhamos no laboratório de Fotografia da referida universidade, uma como professora, a outra como monitora acadêmica, mas quase sempre estruturadas por essa complementaridade. O tempo passou: a estudante converteu-se também em professora universitária e cada uma deu continuidade a seus projetos, sem perderem contato. Seguimos unidas pela confiança identitária e a cumplicidade conceitual: a vontade de trabalhar com arte, com a arte e a educação, e a visão da fotografia como campo, meio e dispositivo para a concretização dos objetivos. A relação foi mantida através do diálogo, da troca de experiências e da colaboração em diferentes atividades. Nesses mais de vinte anos, ainda que por vezes à distancia, publicamos livros, organizamos exposições, debates, palestras, participamos em avaliações de trabalhos de pesquisa de estudantes, colaboramos em projetos de pesquisas e viagens de estudos. Diálogo, respeito e confiança, pode-se dizer, compuseram as bases da metodologia de trabalho que une duas professoras/pesquisadoras/realizadoras.